Parece post atrasado eu sei, mas não é!
Sei também que a tradicional queimação de palhinhas acontece no dia 6 de janeiro, dia de Reis. Sei de tudo isso, mas a queimação de palhinhas da qual participei, pela primeira vez, aconteceu hoje e ela atrasou pelo simples fato de que as senhoras que rezam a ladainha só tinham esse dia livre, pois no dia de Reis elas estavam muito requisitadas.
A queimação segue um ritual tradicional, as pessoas ficam em volta do presépio enquanto alguém canta e reza a ladainha em latim, daí a dificuldade de achar alguém, que não seja padre, para rezar.
As senhoras que foram a casa de minha amiga, Dona Karen, para fazer o ritual eram a própria encarnação da Tradição, carregavam seus caderninhos amarelos e machucados pelo tempo, passados de mãe para filha por décadas. Carregá-lo também faz parte da tradição, pois ela abriam o caderno na página correta, olhavam e fechavam os olhos para cantar, viravam a página pelo simples fato de saber que naquele momento exato o que cantavam estavam em outra folha, mas elas não precisam do caderno, carregam por que tem de carregar, a ladainha já habita a memória.
O que cantavam era de uma melodia simples e por isso mesmo bonita. Exceto por umas Aves Maria, Reginas e Salves eu não entendi nada do que falavam e pra falar a verdade nem sei se elas entendem, mas a simplicidade e a tradição milenar bem diante de meus olhos me fizeram ficar feliz, me trouxeram paz.
Poucos são o que mantem a tradição, mesmo os mais novos que perpetuam a prática, precisam dessas senhoras para continuar o ritual, olhá-las me faz perguntar, se hoje elas são tão raras o que acontecerá quando ninguém quiser decorar as rezas em latim? Será que um dia essa tradição se extinguirá?
Talvez seja apenas meu lado historiadora falando mais alto, quem sabe? O fato é que quando esse sentimento me aparece eu tento lembrar a fala de uma das mães da Casa de Minas, quando perguntada se ela não se preocupava pelo fato das mães estarem morrendo e não havia indicação de novas sacerdotisas podendo assim ser o fim da casa ela respondeu, "Se for da vontade dos santos, será. Quando eles quiserem alguém aparecerá ."
Ouvir isso de um antropólogo em uma palestra sobre cultura afro, às vezes nós pesquisadores ficamos com tanto medo que nosso objeto de estudo desapareça que corremos para defendê-lo, militamos afincamente, escrevemos sobre ele e esquecemos de simplesmente vivê-lo, aproveitá-lo, realizá-lo.
Ao queimar as palhinhas e fazer meus três pedidos como manda o costume, eu fiz isso o referenciei como merece, segui a tradição sem questioná-la, sem refletir sobre ela, sem academizá-la ou intelectualizá-la, simplesmente fiz e me senti bem!
É claro que não estou defendendo o fim dos estudos sobre tradições, longe de mim isso é meu trabalho, mas acredito que pode-se unir as duas coisas e principalmente gostaria de lembrar que a melhor maneira de manter uma tradição viva e realizá-la.
Por isso parabém amiga Karen Patricia por manter a tradição e obrigada por me convidar para vivê-la como deve ser, espero que vocês também consigam viver suas tradições.
EVOEH a todos.
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