Sobre as manifestações. (texto publicado no facebook em 19.06.2013)

Há quem diga que essas manifestações são fruto das elites, articulações politicas para desestabilizar o governo, baderna de filhinhos de papais que nunca sofreram e que querem aparecer na mídia. Há ainda quem dizem que são os grupos de extrema esquerda querendo tomar o poder. Bom oque eu digo é o seguinte:
A Revolução Francesa foi liderada pela burguesia, o povo participou, foi ele manipulado? Não havia ninguém sequer que lutava por mudanças reais a todos? Não foram, portanto seus resultados válidos?
A Revolução Gloriosa teve participação da Aristocracia, seu resultado é menos importante?
A independência das 13 colônias americanas foi arquitetada pelas elites, mas o povo foi à guerra, a liberdade obtida é menos justa ou mais “feia” por conta disso?
A Farroupilha no Brasil foi uma revolta da Aristocracia, mas o povo humilde que lá estava que lutou e desejava mudanças (que não vieram) devem ser vistos como coitados? Burros por serem manipulados?
Nossa República não teve participação popular, devemos desejar, portanto estar em uma monarquia porque a elite que realizou o movimento não nos representou?
A Revolução de 30 nada mais foi que um golpe militar, brigaremos então para a volta da política café com leite?
Mesmo na Ditadura Militar, muitos filhos da classe média foram os articuladores da “resistência”, foram eles ao lado do povo mais carente que também foram torturados. Não foram válidos esses esforços?
Nas Diretas já, também estava os filhinhos de papais, intelectuais, acadêmicos, classe médias e urbanas e grupos populares lado a lado não foram, portanto as passeatas válidas?
O que eu digo é:
E daí se alguns de nossos manifestantes vão ao shopping e comem Mac Donald antes de ir para a passeata, e daí se tem gente que vai para tirar foto e postar no facebook!
Isso não significa que não existam pessoas, independente da classe social, que estão ali por que estão cansadas, que não suportam tamanha carga tributária, corrupção e assistencialismo que assistimos hoje. Não é preciso ser socialista, intelectual ou acadêmico para saber que as coisas não vão bem, não é preciso entende de economia, politica externa e afim para poder gritar QUE DO JEITO QUE TÁ NÃO DÁ MAIS. Não importa se há playboys, mauricinhos e patricinhas, se é elite, classes médias ou populares no movimento o importante é que eles estão lá exercendo seus direitos de manifestação da forma que querem e que podem.
Devemos entender nosso próprio tempo, nossa sociedade é outra, as revoluções começam primeiras no campo virtual e felizmente está indo para o real. Ao gritar as palavras de ordem, ir para as ruas às manifestações conscientiza e isso, por si só já é maravilhoso.
Enquanto professora de História que sou não tenho como não me arrepiar ao ver aquelas imagens das sombras gigantes na marquise do congresso, não tem como não me emocionar quando vejo um senhor de 70 anos gritando “o gigante acordou”, ou ver os cartazes com "Verás que um filho teu não foge à luta" e principalmente não tem como descrever o brilho nos olhos de meus alunos ao ver essas imagens, ao discutir isso em sala de aula, ao vê-los sentindo orgulho e coragem para participar das manifestações. Tudo isso renova meu espirito como professora.
Hoje 19 de junho de 2013 São Luís se levantará e participará da movimentação Nacional, infelizmente não estarei lá, depois de muito refletir optei por ir a zona rural na escola em que trabalho com jovens e adultos e discutir as manifestações, explicar a eles o que é a PEC 37, que não existe cura Gay, por que ser Gay não é doença, o que é um PIB e por que 10% dele para a educação é tão importante, explicar que não são por 0,20 centavos que tudo isso está acontecendo no Brasil, desse modo acredito que estarei cultivando mais flores para nossa PRIMAVERA BRASILEIRA.
PS: o professor Henrique Borralho fez uma excelente analise sobre as manifestações recomendo a leitura. Aqui: http://versura.blogspot.com.br/

PS: Devido a interdição de algumas ruas minha escola suspendeu as aulas, então eu fui para as manifestação.
as fotos estão na minha pagina no face.
https://www.facebook.com/media/set/?set=a.584651401567785.1073741827.100000687907229&type=3

"Ninguém aqui vai notar, mas eu jamais serei a mesma".

No dia 23 de junho de 2012 meu mundo acabou... exatamente as 2:00 da madrugada o médico da emergência da UPA me falava que meu pai tinha sofrido um infarte fulminante e apesar de todas as tentativas   não resistiu e faleceu.
Os momentos que seguiram não cabem ser relatados, a dor, a tristeza e a loucura que sentimos não podem ser descritos, apenas quem passa por algo semelhante pode ter um vislumbre de como é.
De tudo que passei no ultimo ano a coisa a qual mais me preocupei, em relação a mim, foi com minha sanidade,  depois dos primeiros 15 dias sem dormir e com a paranoia chegando cada vez mais perto, tentei de tudo para não entrar em depressão. Escrevi algumas vezes falando da dor, desabafando, procurei amigos apenas para está ao lado deles, me cerquei de crianças para tentar ter a alegria de volta em minha vida, mergulhei no trabalho, criei projetos, passeios, orientei monografias, escrevi outra.
Derrubei minha casa e construir outra, devo confessar que acreditava que a medida que a nova casa era construída eu ia me reconstruindo também, foi um projeto audacioso e que me deixa orgulhosa até hoje, mas a verdade é que apesar de tudo isso, eu não conseguir mudar.
Ainda sinto uma saudade enorme dele, ainda sinto que ele vai chegar em casa procurando suas pimpolhas... acho que ele tá viajando, ou tá atrasado pro almoço, me pego chateada com ele por ele não tá aqui e sempre que pego suas ferramentas para fazer qualquer coisa sinto como se ele tivesse me olhando e dizendo: CUIDADO, Deixa eu fazer isso!
Mas nada dói mais que chegar a noite e não ver a rede branca estendida no terraço, com ele roncando e me esperando para abrir o portão.
Era engraçado eu buzinar e ele levantar esbaforido e me deixar entra. Era tão simples e precioso quando ele se arrumava todo, se perfumava ao extremo para ir a igreja, no domingo a noite.
 Ele desfilava e perguntava: Tô bunito??, eu ria e dizia tá lindo papai...
Durante todo esse ano em que tentei não entrar em depressão, eu estava em depressão, para fugir da tristeza eu me sobrecarreguei de tudo que podia e sinceramente não sei se não continuarei a fazer isso, apesar de não esconder o que sentia eu colunas para me segurar em pé. Sei hoje que elas não apagam a dor nem a tristeza, mas permitem que eu fique em pé e isso é importante.
Quando fui ao cemitério hoje, não conseguir sentir que meu pai estava lá, para mim nada daquilo tem haver com ele... para mim ele ainda vai bater no portão de casa dizendo que esqueceu a chave, ele ainda vai gritar para mim buscar a rede dele, eu ainda vou sentar ao seu lado e espremer os cravos de seu rosto, ainda vamos ter nossas discussões religiosas e ele ainda vai explodir de orgulho toda vez que coloco minha beca de professora para ir a alguma colação de grau da faculdade...
O tempo não vai melhorar isso, tenho certeza hoje que isso não vai passar. Um pedaço de mim foi arrancado e sempre um buraco vai está lá, o tempo vai apenas me ajudar a aprender a conviver com a dor que a cada dia, fica pior, pois você espera por algo que não vai chegar.

Obrigada a todos os amigos que me acompanham, que estão ao meu lado, que perceberam que eu mudei e compreendem o que acontece. A escrita é um desabafo, uma das muitas formas ritualísticas que me obrigo a fazer para manter minha sanidade, por isso não há necessidade de comentários ou palavras de solidadriedade. Continuarei fazendo o que sei fazer de melhor, para me manter firme e como já dizia a letra da música "Ninguém aqui vai notar, mas eu jamais serei a mesma".

EVOEH!